Trovadorismo: escola literária do século 9

trovadorismo surgiu em Provença, uma região localizada na França, e logo se espalhou por quase todo território Europeu tendo seu declínio no século XI. Os chamados trovadores eram responsáveis pela composição das trovas. Quem cantava ou recitava esses poemas era chamado de Jogral. No trovadorismo, música e a poesia eram extremamente ligadas a religião cristã.

Composto por cantigas líricas e satíricas, eram compostas por um híbrido entre a linguagem poética e a música. Foi um dos gêneros literários mais populares da Idade Média, ao lado das novelas de cavalaria, expressão da prosa no período.

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As cantigas eram compostas por satíricas e líricas

Contexto histórico

O trovadorismo desenvolveu-se durante o período medieval, e por isso guarda grandes referências desse período da história mundial. Na época ainda não existiam os Estados nacionais — a Europa encontrava-se dividida pelo sistema Feudal, grandes propriedades controladas pelos Senhores Feudais e conduzida pela mão de obra era servil.

Nesse momento a moeda ou dinheiro também não eram utilizados, o valor era medido com base nas posses de terra, ou seja, quanto mais terras o Senhor Feudal possuía, mais rico e poderoso ele era. Por esse motivo, o cotidiano medieval era marcado por muitas guerras, batalhas e invasões com o intuito da conquista de territórios.

A ligação entre o Senhor Feudal e seus respectivos servos era estabelecida uma relação de suserania e vassalagem: o suserano, senhor do feudo, precursor da nobreza europeia, oferecia proteção aos seus vassalos que, em troca, produziam os bens de consumo: cultivavam, fiavam, forjavam as armas etc.

A imagem de um rei soberano até existia, porém ele possuía pouco poder político. O rei representava o topo da nobreza, mas separava suas terras entre os Senhores Feudais para dividir as responsabilidades governamentais, e estes acabavam sendo mais representados e respeitados do que o próprio rei.

Com o declínio do Império Romano, o latim vulgar, língua oficial de Roma, passou a sofrer modificações entre os povos dominados. Foi nesse longo período da Idade Média que começaram a surgir as línguas neolatinas, como o português, o espanhol, o francês, o italiano, o romeno e o catalão. No entanto, foi apenas no século XIV que o português surgiu como língua oficial; as cantigas dos trovadores foram, portanto, escritas em um outro dialeto: o provençal.

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Representação do sistema Feudal

Características do trovadorismo

As obras do trovadorismo são chamadas cantigas ou mesmo de trovas, pois eram escritas para serem declamadas nas praças. Não haviam livros na Idade Média, a população era analfabeta e ainda não havia sido inventado o livro impresso, os poucos que sabiam ler, costumavam ser clérigos ou nobres. Geralmente eram acompanhadas de instrumentos musicais, como a lira, flauta e viola.

compositor da cantiga era chamado de trovador, o músico era chamado de menestrel, o trovador profissional se chamava segrel e o cavaleiro que ia de corte em corte divulgando suas cantigas em troca de dinheiro. Havia também o jogral, cantor de origem popular que interpretava cantigas de outrem e compunha as suas próprias. As baladeiras ou soldadeiras eram as dançarinas e cantoras que também os acompanhavam nas apresentações e dramatizações das cantigas.

O trovadorismo foi conhecido como um movimento itinerante, ou seja, os grupos de trovadores e menestréis viajavam pela Europa para se apresentar. Nas cantigas, divulgavam acontecimentos políticos, ideias, conquistas de territórios e histórias populares.

amor era um dos temas principais do trovadorismo sendo abordado sobretudo como condutor das cantigas de amor e das cantigas de amigo. A dor do amor, chamada de coita (coyta), do trovador apaixonado que sente no corpo a não realização amorosa, era comumente um tema central, originando a palavra “coitado”: aquele que foi desgraçado, vítima de dor ou mazela.

As de escárnio e as de maldizer, por sua vez eram dedicadas a satirizar e ridicularizar algo ou alguém. Ao contrario das cantigas de amor e de amigo, o tema central desse tipo de cantiga era a raiva ou o rancor.

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O trovadorismo foi conhecido como um movimento itinerante

Trovadorismo em Portugal

O trovadorismo galego-português cresceu ao final do século XII. Os pesquisadores apontam uma cantiga de Paio Soares de Taveirós dedicada a Maria Pais Ribeiro, como percursora do trovadorismo em Portugal. Essa cantiga seria a favorita do rei Sancho I, que viveu entre os anos de 1154 e 1211.

D. Afonso I Henriques transformou os dois condados que futuramente seriam a origem de Portugal em um reinado, mas ele só foi reconhecido como monarca ao reconquistar essas terras resguardado pelo poder e força da cristandade. No entanto a nacionalidade dos trovadores, não era portuguesa, e sim ibérica e hispânica. A origem desses compositores era Leão, Galícia, o reino português, Castela etc.

Foi com Dom Dinis I, no final do século XIII, quem estabeleceu finalmente a língua galego-portuguesa como oficial do reino de Portugal, junto às primeiras universidades. O monarca era um trovador também e queria que Portugal se constituísse como nação de fato, incentivando a identidade cultural por meio do trovadorismo. O movimento foi muito importante para o desenvolvimento do idioma e da cultura portuguesa.

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Dom Dinis I foi conhecido como o rei poeta

Principais autores e obras do trovadorismo

Houve grande número de autores das cantigas galego-portuguesas, mas a maioria era de origem desconhecida e anônima. O trovadorismo, em sua grande maioria, costuma ser de autoria dos grandes senhores medievais ibéricos.

Dos autores mais conhecidos, podemos citar João Soares de Paiva, João Zorro, Martin Codax, Paio Soares de Taveirós, João Garcia de Guilhade, Vasco Martins de Resende e os reis D. Dinis I e Afonso X.

As trovas que sobreviveram aos anos e chegaram até nossos dias estão compiladas nos Cancioneiros, um tipo de livro feito com manuscritos e pergaminhos. Os mais conhecidos são os pergaminhos Vindel Sharrer, por possuírem notação musical.

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Exemplar de cancioneiro

Tipos de Cantigas

As cantigas dividem-se em dois tipos: lírico e satírico.

Cantigas líricas

Cantigas líricas são as de temática amorosa, e possuem dois tipos: cantigas de amor e cantigas de amigo.

Cantigas de amor

A cantiga de amor é cantada sempre em 1ª pessoa. Nela, o trovador declara seu amor por sua amada, geralmente sofrendo pela coita, a dor amorosa diante da indiferença da amada, sendo um coitado.

confissão do amor é direta, e o trovador se refere à sua dama amada como “mia senhor” ou “mia senhor fremosa”, fazendo analogia às relações de suserania e vassalagem.

Mesura seria, senhor,
de vos amercear de mi,
que vós em grave dia vi,
e em mui grave voss’amor,
tam grave que nom hei poder
d’aquesta coita mais sofrer
de que muit’há fui sofredor. Pero sabe Nostro Senhor
que nunca vo-l’eu mereci,
mais sabe bem que vós servi,
des que vos vi, sempr’o melhor
que nunca pudi fazer;
por em querede-vos doer
de mim, coitado pecador.

[…]

D. Dinis

Cantigas de amigo

Embora compostas por trovadores homens, eram representadas sempre uma voz feminina. É a dama quem vai expor seus sentimentos dessa vez, e sempre de maneira discreta, buscando por descrição. A donzela se refere geralmente à sua mãe, a uma irmã ou amiga, ou ainda a um pastor ou alguém que encontre pelo caminho. Existem sete categorias de cantigas de amigo:

  • albas declamadas o nascer do Sol
  • bailias que cantam a arte da dança
  • barcarolas de temática marítima
  • pastoreias de temática bucólica
  • romarias que celebram a religião
  • serenas declamadas ao pôr do Sol
  • pura soledade que não se enquadram em nenhum dos temas anteriores.

Oy eu, coytada, como vivo em gran cuydado
por meu amigo que ey alongado!
Muito me tarda
o meu amigo na Guarda Oy eu, coytada, como vivo em gran desejo
por meu amigo que tarda e non vejo!
Muyto me tarda
o meu amigo na Guarda

D. Sancho I ou Alfonso X – autoria duvidosa

Cantigas satíricas

Buscavam ironizar ou difamar determinada pessoa ou situação. Existem dois tipos de cantigas satíricas: as de escárnio e as de maldizer.

Cantigas de escárnio

São mais irônicas e trabalham com trocadilhos e palavras de duplo sentido, sem mencionar diretamente nomes. São críticas geralmente discretas.

Ai dona fea, fostes-vos queixar
que vos nunca louv’en[o] meu cantar;
mais ora quero fazer um cantar
em que vos loarei todavia;
e vedes como vos quero loar:
dona fea, velha e sandia!

Dona fea, se Deus mi perdom,
pois havedes [a]tam gram coraçom
que vos eu loe, em esta razom
vos quero já loar todavia;
e vedes qual será a loaçom:
dona fea, velha e sandia!

Dona fea, nunca vos eu loei
em meu trobar, pero muito trobei;
mais ora já um bom cantar farei
em que vos loarei todavia;
e direi-vos como vos loarei:
dona fea, velha e sandia!

João Garcia de Gilhade

Cantigas de maldizer

São cantigas em que os trovadores atacam de forma direta e citando nomes dos alvos de suas sátiras, de forma propositalmente ofensiva e fazendo uso de vocabulário grosseiro.

Da mulher vossa, ó meu Pero Rodrigues
Jamais creiais no mal que falam dela.
Pois bem sei eu que ela por vós mui zela,
Quem não vos quer vos traz somente intrigas!
Pois quando deitou ela em minha cama,
A mim mui bem de ti ela falava,
Se a mim deu o corpo, é a vós quem ela ama.

Martim Soares

Cancioneiros: precursores dos livros

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O movimento literário Trovadorismo chegaram até conhecimento da história pelos Cancioneiros, onde se registraram as cantigas medievais. Os cancioneiros são espécies livros, geralmente manuscritos, que foram compilados com as letras das cantigas e, às vezes, notações musicais das canções, além de ilustrações. Os principais são:

  • Cancioneiro da ajuda
  • Cancioneiro da Biblioteca Nacional
  • Cancioneiro da Vaticana

FAQ – Perguntas frequentes

O que é trovadorismo?

O trovadorismo surgiu em Provença, uma região localizada na França, e logo se espalhou por quase todo território Europeu tendo seu declínio no século XI. Os chamados trovadores eram responsáveis pela composição das trovas. Quem cantava ou recitava esses poemas era chamado de Jogral. No trovadorismo, música e a poesia eram extremamente ligadas a religião cristã.

Qual o contexto histórico?

O trovadorismo desenvolveu-se durante o período medieval, e por isso guarda grandes referências desse período da história mundial. Na época ainda não existiam os Estados nacionais — a Europa encontrava-se dividida pelo sistema Feudal, grandes propriedades controladas pelos Senhores Feudais e conduzida pela mão de obra era servil. O trovadorismo galego-português cresceu ao final do século XII. Os pesquisadores apontam uma cantiga de Paio Soares de Taveirós dedicada a Maria Pais Ribeiro, como percursora do trovadorismo em Portugal. Essa cantiga seria a favorita do rei Sancho I, que viveu entre os anos de 1154 e 1211.

Principais características

As obras do trovadorismo são chamadas cantigas ou mesmo de trovas, pois eram escritas para serem declamadas nas praças. Não haviam livros na Idade Média, a população era analfabeta e ainda não havia sido inventado o livro impresso, os poucos que sabiam ler, costumavam ser clérigos ou nobres. Geralmente eram acompanhadas de instrumentos musicais, como a lira, flauta e viola.

Quais os autores principais?

Dos autores mais conhecidos, podemos citar João Soares de Paiva, João Zorro, Martin Codax, Paio Soares de Taveirós, João Garcia de Guilhade, Vasco Martins de Resende e os reis D. Dinis I e Afonso X.

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